ARQ - Hist2s - Vol 06 (2002)
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Artigos publicados no Vol. VI - 2002
CONTEÚDO:
História Insular e Atlântica
LEITE, José Guilherme Reis - A Honra, o Serviço e o Proveito: os capitães da PraiaGREGÓRIO, Rute Dias - Algumas considerações sobre a sociabilidade nas ilhas : Pero Anes do Canto e os Corte Real (1505-1518)
SOUSA, Nestor de - Programas de arquitectura militar quinhentista em Ponta Delgada e Angra do Heroísmo. Italianos, italinização e intervenções até ao século XVIII : a ermida de S. João Batista na fortaleza do Monte Brasil
RODRIGUES, José Damião - Entre duas margens. A circulação atlântica dos açorianos nos séculos XVII e XVIII
RILEY, Carlos Guilherme - Garrett de passagem por São Miguel : marcas e viagens do romantismo ilhéu
PEREIRA, António dos Santos - A habitação, a posse e a exploração da terra nas Capelas (S. Miguel) em 1882
SOUSA, Paulo Silveira e - Gerir o dinheiro e a distinção : as caixas económicas de Angra do Heroísmo e os seus corpos dirigentes (1845-1915)
SILVA, Susana Serpa - Em busca de novos horizontes. Açores, emigração e aculturação nos finais do século XIX, inícios do século XX
ANDRADE, Luís - Uma perspectiva açoriana das relações entre Portugal e os Estados Unidos da América
História Geral
MENESES, Avelino de Freitas de - Uma memória de PortugalVIANA, Mário - Um testemunho de direito consuetudinário (1281)
ABREU, Laurinda - A especificidade do sistema de assistência pública português : linhas estruturantes
MUNTANER, Antoni Picazo - Notas para una contribución a la concepción espacial y geografía mental de los comerciantes europeos en la Edad Media e Inicios de la Moderna
ABREU, Maria Zina Gonçalves de - Luta das mulheres pelo direito de voto : movimentos sufragistas na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos
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- Algumas considerações sobre a socialidade nas Ilhas : Pero Anes do Canto e os Corte Real (1505-1518)Publication . Gregório, Rute Dias[...] O Veador [Vasco Anes Corte Real] [há-de] [...] ser farto de quanta avexaçam e mal me tem feito, registava Pero Anes do Canto em 1516. E a expressão nada parecia ter de gratuito, sob o ponto de vista daquele que a enunciava, se a contextualizarmos na série de ocorrências e situações por si vividas ao tempo. Ilustremos um pouco melhor. A 23 dias de Agosto de 1516, procuradores do capitão de Angra e S. Jorge, vedor da Fazenda e conselheiro régio, Vasco Anes Corte Real, procuradores a saber, João Álvares Neto e Diogo Rodrigues de Aboim, solicitavam em justiça citação e demanda a Pero Anes do Canto. A razão invocada prendia-se com determinadas terras, no seu entender pertencentes ao finado filho do capitão de Angra, Gaspar Corte Real (e por isso agora a seu pai como legítimo herdeiro), e ao ainda sob poder e governança do progenitor Jerónimo Corte Real, terras essas na posse ilícita de Pero Anes do Canto. “Pomo da discórdia” seriam então as já conhecidas terras do Porto do Cruz, actuais Biscoitos, que constituiam, ou viriam a constituir, tão-só o primeiro aquirimento de Pero Anes nas ilhas, a pedra angular do respectivo património, a base material da ainda incipiente quinta de S. Pedro (quinta essa, por sua vez, pilar de sustentação da futura Casa Canto) e também viriam a compôr a futura cabeça de morgadio instituído no filho primogénito, António Pires do Canto. Tais terras não estavam, no entanto, todas envolvidas na referida demanda com o capitão de Angra. De facto, contemplava-se apenas aqui uma zona periférica da propriedade em causa, sita à denominada Serra Gorda. Descrita como terra tam longe e [...] tam fragosa acjma que muitas vezes se pasavam sejs meses e huum año [sem] que se soubesse na vila [Angra] ho que se la fazia, constituiria, e pelas referidas características, espaço privilegiado para a eventual ocorrência de situações similares. Por assim o ser, registe-se que o conflito pelo domínio deste território era tudo menos novo. Antes do processo jurídico levantado por Vasco Anes Corte Real, outras demandas haviam envolvido as mesmas terras. [...]
- Em busca de novos horizontes : Açores, emigração e aculturação nos finais do séc. XIX, inícios do séc. XXPublication . Silva, Susana SerpaA diáspora pode considerar-se um dos aspectos estruturais da história do povo das ilhas atlânticas e da sociedade portuguesa em geral, pois trata-se de um fenómeno secular que remonta à época da expansão ultramarina. Pela sua relevância, a temática da emigração tem constituído matéria privilegiada pela investigação histórica e sociológica, quer no país, quer na região. A situação geográfica do arquipélago dos Açores, situado em pleno eixo de navegação que medeia a Europa e as Américas, sempre facilitou a emigração, incluindo as fugas clandestinas, em condições desumanas, que pelo seu carácter ilegal e furtivo são impossíveis de contabilizar. Se já no século XVIII cerca de 4.000 famílias açorianas rumaram com destino ao Brasil, incentivadas pela política de D. João V e condicionadas pela carestia dos cereais e pela alta de preços, foi, contudo, no século XIX que a emigração açoriana conheceu índices sem precedentes, com maior incidência na segunda metade da centúria e assumiu novas características, integrando-se num processo bem mais lato e comum a quase toda a Europa contemporânea, que se viu também confrontada com sucessivas vagas emigratórias. [...]
- Entre duas margens : a circulação atlântica dos açorianos nos séculos XVII e XVIIIIPublication . Rodrigues, José Damião“A emigração é um fenómeno complexo nas suas causas, condições e resultados”. Acresce que as migrações, sejam elas internas ou externas, constituem-se como o fenómeno demográfico de mais difícil caracterização e mensuração em todas as épocas e, praticamente, em todo o mundo. As fontes, de um modo geral, são esparsas ou de duvidosa fiabilidade e, mesmo quando existem séries aceitáveis, colocam-se muitas questões sobre a sua representatividade; por outro lado, a mobilidade dos elementos dos estratos mais baixos e das franjas da sociedade, a clandestinidade e o exercício de funções burocráticas e militares surgem também muitas vezes como obstáculos a uma correcta interpretação do fenómeno. Por estas razões, é difícil, se não de todo impossível, determinar com segurança os valores correspondentes à presença lusitana em terras africanas, asiáticas e americanas, tanto mais que, como afirmou o historiador A. J. R. Russell-Wood, o império português caracterizou-se por um permanente fluxo e refluxo de gentes das mais variadas condições sociais e com distintos objectivos. Aemigração portuguesa tem sido, desde o século XV, um dos fenómenos mais marcantes da história do país. Existiam variadas razões para a emigração. Desde logo, as estratégias particulares ou colectivas para ultrapassar dificuldades, mais ou menos acentuadas, de índole socioeconómica. Tratava-se da oportunidade de investir em novas realidades, nem que essas se encontrassem muito distantes, no outro lado do Atlântico, como é o caso do Brasil. Outras razões baseiam-se sobretudo em objectivos políticos e militares dirigidos pela coroa. Nesta comunicação, procuraremos abordar algumas destas questões, focando a nossa atenção nas migrações e na mobilidade atlântica das gentes dos Açores nos séculos XVII e XVIII, quer a título individual, quer a título colectivo. [...]
- A especificidade do sistema de assistência pública português : linhas estruturantesPublication . Abreu, Laurinda Faria dos SantosÉ hoje consensual que as transformações socioeconómicas registadas na Europa desde meados do século XV, potenciadas por uma ameaçadora pressão demográfica sobre os centros urbanos, foram determinantes para a reestruturação das práticas e das políticas assistenciais que desde então procuraram dar resposta à escalada do pauperismo, às cíclicas investidas da(s) peste(s), e ao crescente número de pedintes e de vagabundos. A tendência dominante do poder político, suportada pelos teóricos sociais que começavam a debruçar-se sobre o assunto, foi no sentido de racionalizar, modernizar e secularizar os mecanismos de apoio à pobreza e à doença, ao mesmo tempo que operacionalizavam os recursos existentes. Entre outras medidas tomadas, iniciou-se a centralização hospitalar, criando-se os chamados Hospitais Gerais: construídos de raiz –geralmente de grandes dimensões quando comparados com os seus antecessores–, ou resultando da adaptação e aumento de antigas instalações, os novos hospitais tinham como suporte patrimonial as rendas e os bens dos institutos desactivados, acrescidos das esmolas e das contribuições mais ou menos regulares dos monarcas e do poder local, a que se juntava, em certos casos, o contributo fiscal dos cidadãos. Embora com variantes locais, no início de Quinhentos já vigorava na Europa um sistema de assistência que, pela sua modernidade, se afastara dos princípios que tinham norteado o exercício da caridade na Idade Média. [...]
- Garrett de passagem por São Miguel : marcas e viagens do romantismo ilhéuPublication . Riley, Carlos GuilhermePerante tão eminentes especialistas dos estudos garrettianos, dita-me o bom senso que não fale muito de Almeida Garrett. Mas, por outro lado, manda a boa educação que não ignore aquele que hoje aqui homenageamos. Face a este dilema resolvi falar da sua passagem pela ilha de S. Miguel que, como é sabido, foi breve e poucas páginas ocupa nas biografias que lhe são dedicadas, para depois me deter com mais vagar sobre algumas manifestações locais dessa cultura romântica de que o autor das Viagens é o porta-estandarte nacional. [...]
- Gerir o dinheiro e a distinção : as caixas económicas de Angra do Heroísmo e os seus corpos dirigentes (1845-1915)Publication . Sousa, Paulo Silveira eAs instituições de crédito local são espaços institucionais onde convergem o giro monetário, o exercício da influência e as redes dos negócios e da política. A sua análise e a dos seus corpos dirigentes surge como uma boa maneira de se avançar numa descrição mais clara do grupo dos principais protagonistas dos negócios e do capital nos Açores, ajudando-nos a perceber quem eles eram e quais os seus interesses e as suas práticas. Simultaneamente, ela permitir-nos-á compreender melhor o desempenho económico do distrito e perceber que, por detrás dos discursos mais pessimistas, havia uma realidade económica, por vezes pouco visível, mas que manifestava um relativo dinamismo. De facto, numa ilha que esteve afectada pela escassez de moeda até ao final da década de 1880, que manteve défices quase constantes na balança de pagamentos ao longo de quase todo este período, e cuja economia era ciclicamente classificada como estando em crise, as caixas económicas locais sobreviveram, prosperaram e foram-se modernizando. [...]
- A habitação, a posse e a exploração da terra nas Capelas (S. Miguel) em 1882Publication . Pereira, António dos Santos[...] Entre os assuntos de âmbito económico mais debatidos, aquele que tem merecido esmerada atenção prende-se com uma certa viragem económica, consequência do fim de um denominado ciclo da laranja. Na entrada para o último quartel do século XIX e ao longo do mesmo, tentar-se-á sair das graves crises, que ameaçavam a economia agrícola tradicional açoriana, com novos cultivos: o ananás, a batata doce com intuitos de transformação industrial, o chá, o tabaco, já antes tentado e sobretudo o desenvolvimento da pecuária. Neste processo, feito de experiências, reflexões, intervenções no Parlamento por vozes autorizadas, actos administrativos pertinentes, exposições, e outras medidas estarão implicados todos os estratos sociais dos mais ao menos cultos, autores e simples curiosos, nobres e burgueses, artífices e lavradores, portugueses e estrangeiros. Sendo a terra a primacial geradora de receitas em S. Miguel e o factor catalisador da circulação das espécies monetárias, a procura do escoamento da produção torna-se premente. Em crise, encontrar-se-iam os pomares de laranjeiras por doença que atingiu violentamente as árvores como querem uns ou por mercados alternativos de abastecimento dos consumidores ingleses como descobrem outros. O facto tinha sido notado por W.R. Kettle, no período em causa: «S. Miguel é bem conhecido pela bela qualidade daquelas (laranjas). Infelizmente, com a doença das laranjeiras, e baixo preço da fruta exportada, os cultivadores actualmente arrancam as laranjeiras para cultivarem a batata doce, que vendem aos destiladores de álcool. As principais produções agrícolas, além da batata doce, são milho e fava, que se exportam em grande escala, não se desperdiçando a menor parcela de terreno aproveitável». Cinquenta anos antes desta observação, um outro inglês tinha notado o empenho dos seus compatriotas na rendibilização das quintas micaelenses. [...]
- A honra, o serviço e o proveito : os capitães da PraiaPublication . Leite, José Guilherme ReisO fenómeno político e administrativo das capitanias na expansão portuguesa tem sido sobejamente estudado, mas quase sempre de um prisma jurídico e generalista, merecendo, contudo, também uma abordagem mais pormenorizada que é aquela que me proponho fazer aqui. Julgo, até, que com fins didácticos é possível estabelecer um esquema em três períodos que facilite a sua compreensão e depois aplicá-lo no estudo de cada uma das capitanias açorianas. Assim, tal esquema divide-se num primeiro período que abrange a criação das capitanias e a formação das casas senhoriais e sua consolidação e que cronologicamente se estende entre 1450 a 1580, correspondente grosso modo à dinastia de Aviz. Um segundo período que abrange a política dos Áustrias, entre 1580 e 1640 o que se traduz numa manutenção das capitanias existentes, mas também na sua concentração num número mais reduzido de capitães, que são agora grandes validos da coroa, titulados e absentistas. Por último, um terceiro período entre a Restauração e a política pombalina (1640-1766) caracterizado pelo fim das casas senhoriais e a doação ocasional do cargo de capitão. [...]
- Luta das mulheres pelo direito de voto : movimentos sufragistas na Grã-Bretanha e nos Estados UnidosPublication . Abreu, ZinaA minha consciencialização de que as diferenças de estatuto social, político e económico entre os sexos, que ainda hoje persistem em maior ou menor grau em todas as sociedades do mundo contemporâneo, tinham um longo passado histórico-cultural foi inicialmente despertada com a leitura da obra A Vindication of the Rights of Woman (1792), da autora britânica Mary Wollstonecraft. A publicação desta obra seguiu-se à de A Vindication of the Rights of Men (1790), da mesma autora, e à de The Rights of Man (1790), de Thomas Paine. São obras que nos falam da urgência em regenerar e reestruturar o Estado e a Sociedade, por forma a assegurar aos cidadãos a liberdade, a igualdade e o pleno gozo dos seus direitos políticos e civis. Contudo, enquanto Thomas Paine é porta-voz dos homens ‘das classes sociais destituídas de direitos políticos e civis’, Mary Wollstonecraft é porta-voz ‘das mulheres de todas as classes sociais’, ao, pela primeira vez na História de Inglaterra, reinvindicar, de forma clara e objectiva, a igualdade política, civil e económica para todas as mulheres. [...]
- Uma memória de PortugalPublication . Meneses, Avelino de Freitas deEm Ciência, e obviamente que também em História, a obtenção da verdade corresponde sempre à descoberta da perfeição. No entanto, apesar do progresso da metodologia e do aprofundamento da investigação, a verdade e a perfeição ainda permanecem por objectivos inatingíveis. Assim, muitas das concepções do passado, mesmo que lógicas e persuasivas, são por natureza erróneas, embora não propriamente desprezíveis. Na cultura portuguesa, ainda persiste uma visão biológica da história nacional, apesar da multiplicação das contrariedades, que resulta do confronto com as mais recentes investigações. Com efeito, desde a 2ª metade do século XIX, uma sucessão de pensadores equipara a evolução do país ao desenvolvimento de um ser vivo, que naturalmente comporta o nascimento, a ascensão, o apogeu, a decadência e a morte. Ademais, quase todos deploram a revelação de um ocaso demasiado prematuro, ainda por cima resistente às diligências de todas as regenerações. Sigamos, no seu essencial, o raciocínio de uma tal teoria. [...]