Artigo publicado em jornal, revista (semanal ou mensal) ou noutro tipo de periódicos não académicos/científicos. (Rascunho; Submetido; Aceite; Publicado; Actualizado).
Como romper com a mediatização da violência? Como interromper o ciclo mimético da violência, sem retornar ao seu núcleo mítico e sacrificial que subjaz à maior parte dos nossos mecanismos para regular a violência, incluindo a nossa consciência e o nosso ordenamento jurídico-político? Como restaurar algum horizonte de sentido e algum contexto interpretativo da violência, sem contribuir para algum tipo de justificação ou legitimação da violência na história?
Não podemos aqui responder a estas perguntas complexas, mas ter consciência que a violência atravessa a amplitude de assuntos humanos e não se detém apenas mediante a sua imputação ou justificação moral, a sua administração instrumental, sua regulação jurídico-política, na compensação das injustiças, ou na sua espectacularização pseudo-catártica. Ao esboçarem-se novos formatos de violência recíproca e de compensação da violência mantém-se a reprodução da violência de uma forma simbólica.
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Ao vivermos num Estado de Direito democrático podemos ter a ilusão que todas as pessoas têm direitos iguais e o mesmo valor. Apesar de assim estar consagrado na Lei, ao analisarmos a igualdade promovida pelo liberalismo, somos confrontados com inúmeras discriminações e desigualdades. Partimos aqui da violência doméstica maioritariamente exercida sobre as mulheres como um exemplo da sociedade patriarcal em que vivemos. A violência nas relações de intimidade permanece na atualidade como uma relevante fonte de exclusão social. […].