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- A Comunicação entre Cientistas e Proteção Civil nos Açores: Procedimentos Operacionais num Cenário de Crise Vulcânica no Vulcão do Fogo (São Miguel, Açores)Publication . Miranda, David Machado; Gaspar, João Luís Roque Baptista; Almeida, Rita Lúcio Carmo deO arquipélago dos Açores encontra-se sujeito a um enquadramento geodinâmico que origina uma região ativa no que concerne à atividade sísmica e vulcânica. Desde o seu povoamento, os Açores já foram palco de pelo menos 28 erupções vulcânicas, tendo algumas destas causado prejuízos significativos. Atualmente, existem 18 sistemas vulcânicos ativos subaéreos e alguns deles foram, inclusivamente, palco de crises sismovulcânicas recentes (e.g. Fogo-Congro, 2005; São Jorge, 2022; Santa Bárbara, 2022), sendo expectável que no futuro ocorram crises semelhantes que poderão ou não resultar numa erupção vulcânica. Apesar do vulcanismo ativo ser uma realidade presente nos Açores, o planeamento específico para o risco vulcânico é escasso e, atualmente, a nível de proteção civil não existem procedimentos estabelecidos que devam ser desencadeados face aos níveis de alerta científico para a caracterização do estado de atividade sismovulcânica na região dos Açores. Assim, mostra-se essencial abordar a relação entre os níveis de alerta científico para a atividade sismovulcânica e as ações de proteção civil a desencadear. O Vulcão do Fogo, localizado na parte central da ilha de São Miguel, é um dos três vulcões centrais com caldeira ativos na ilha e onde já se registaram pelo menos seis erupções explosivas traquíticas nos últimos cinco mil anos. Através da sua história eruptiva foi possível averiguar os impactos e a abrangência dos produtos das suas erupções, que normalmente envolvem uma diversidade de estilos e perigos vulcânicos. Para o desenvolvimento da dissertação, optou-se por utilizar um cenário eruptivo com base no cenário mais provável para uma erupção vulcânica no Vulcão do Fogo, alusivo à erupção de 1563. A análise das vulnerabilidades e dos elementos expostos presentes na região do Fogo aos produtos do cenário eruptivo considerado, em que se destacam os piroclastos de queda, possibilitou a identificação de possíveis implicações nas ações de proteção civil a desenvolver. O resultado desta análise demonstrou que um evento desta natureza, mesmo numa fase precedente, é capaz de provocar impactos e constrangimentos significativos à população, edificado e infraestruturas críticas, especialmente, na rede viária densa existente no setor central e que liga os polos mais extremos da ilha. Com a exposição sobre a gestão de crises vulcânicas, averiguou-se a complexidade em lidar com a gestão de fenómenos vulcânicos, seja devido às suas características intrínsecas, como aos fatores externos que podem injetar dificuldades acrescidas aos decisores. Além disso, ficou patente a importância da interação entre os vários envolvidos para a mitigação do risco vulcânico, tal como a importância da eficácia da comunicação entre estes. Foi possível destacar ainda a relação crucial entre os cientistas, responsáveis pela monitorização e divulgação da informação sobre o estado de atividade dos sistemas vulcânicos, e as autoridades de proteção civil, incumbidos de implementar as ações de resposta e medidas de mitigação ao risco vulcânico. A referência ao sistema de proteção civil dos Açores, permitiu entender as responsabilidades e os papéis atribuídos aos principais envolvidos na resposta a uma crise vulcânica nos Açores. Após desenvolvido o cenário, onde se incluiu a definição dos momentos expectáveis para a alteração dos níveis de alerta científico vulcânico, procedeu-se à discussão sobre a resposta operacional mais adequada para acompanhar a informação científica. O resultado deste exercício demonstrou que a resposta de proteção civil deve corresponder a um processo gradual, ponderado e indicou para a necessidade de uma interpretação ajustada da situação que resulta, consequentemente, da tradução da informação científica. Efetivamente, foi possível concluir que as ações de proteção civil mais eficazes na mitigação do risco vulcânico não são imediatas, pois requerem uma preparação progressiva do sistema de proteção civil que, para o efeito, deve agir sobre as alterações detetadas pelos cientistas desde um nível de alerta vulcânico mais baixo. Este trabalho permitiu ainda estabelecer uma ligação entre cada nível de alerta da escala científica e o conjunto de ações de resposta e medidas de mitigação da proteção civil a desenvolver. Contudo, foi possível reconhecer a complexidade e a incerteza inerente a estes fenómenos que, aliada à natureza essencialmente política das decisões que comportam custos socioeconómicos elevados, tornam a gestão de crises vulcânicas em qualquer sistema de proteção civil, um desafio particularmente exigente.
