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- Avaliação do Estado de Conservação da Biodiversidade da Matela - Área Protegida para a Gestão de Habitats ou Espécies da Ilha Terceira: Uma Abordagem Multi-taxaPublication . Sousa, Mariana Aguiar; Gabriel, Rosalina Maria de Almeida; Borges, Paulo Alexandre VieiraAs áreas protegidas estão no centro dos compromissos mundiais com a sustentabilidade, como forma de preservar as espécies, em benefício das gerações presentes e futuras. No presente estudo investigou-se a biodiversidade de um fragmento de floresta nativa na ilha Terceira, a Matela (Terra Chã, Angra do Heroísmo). Este pequeno fragmento está classificado como “Área Protegida para a Gestão de Habitats ou Espécies da Matela”, e integra o Parque Natural da Terceira (Açores, Portugal). Localizado a média-baixa altitude (300-400 m) encontra-se visivelmente alterado devido à invasão por espécies de plantas exóticas invasoras. Os objetivos gerais deste trabalho foram os seguintes: (i) listar as espécies de cinco grupos taxonómicos (briófitos, plantas vasculares, artrópodes, aves e mamíferos) para a Matela; (ii) comparar os padrões de diversidade da Matela entre os inventários históricos e uma amostragem realizada em 2022; (iii) avaliar o avanço e os efeitos das espécies invasoras e identificar o declínio das espécies nativas e endémicas dos Açores; (iv) identificar os fatores de risco em curso na Matela e (v) avaliar a necessidade de intervenção na Matela consoante a gravidade do estado de conservação do local. Para responder a estes objetivos, foi feita uma recolha sistemática dos documentos históricos sobre a área, mobilizando também dados de herbário e outros não publicados, tendo sido revistos 48 documentos com dados de biodiversidade. A amostragem em 2022 usou uma adaptação dos protocolos GIMS - A Global Island Monitoring Scheme: para os briófitos foram amostrados nove quadrats de 2 m x 2 m, e recolhidas três amostras (microplots) de 10 cm x 5 cm por substrato, num total de 71 amostras; para as plantas vasculares foram feitos inventários em 72 sub-plots de 5 m x 5 m, além de uma listagem de todas as espécies observadas; para amostragem de artrópodes foi utilizada a metodologia BALA, complementando um conjunto de 30 armadilhas de queda (pitfall traps) para amostrar os artrópodes do solo com batimentos na copa das árvores dominantes (10 amostras por espécie de árvore); além deste protocolo foram ainda utilizadas armadilhas de interceção de voo (SLAM traps) para amostrar artrópodes voadores ou com grande capacidade de dispersão; o recenseamento de aves foi realizado em 25 pontos de observação, sempre entre as 07h00 e as 11h00, aplicando o método do ponto de audição e outras observações; o inventário de mamíferos foi feito utilizando armadilhas fotográficas (camera traps) em 30 pontos de amostragem. Para os briófitos foi possível identificar 77 taxa (45 musgos; 32 hepáticas), sendo 73 indígenas, três indeterminados e um introduzido (Campylopus introflexus) e três espécies triplamente raras (distribuição, abundância e especificidade do habitat). A comparação temporal registou uma diminuição de riqueza. Nas plantas vasculares foram identificados 28 taxa indígenas e 26 exóticos, sendo três espécies triplamente raras. Para os artrópodes, no solo, foram registadas oito taxa indígenas e 25 exóticos verificando-se entre 2002 e 2022, que não foram observadas taxas endémicos e um aumento significativo das espécies introduzidas. Nos artrópodes da copa, identificaram-se 36 taxa indígenas e 18 exóticos. Nos artrópodes capturados nas armadilhas SLAM, registaram-se 24 taxa indígenos e 15 exóticos. No total, foram registados 103 taxa, sete deles classificados como triplamente raros. Foram registados 12 taxa de aves indígenas e um introduzido, verificando-se uma diminuição de taxa, principalmente de espécies exóticas. Uma das aves identificadas é triplamente rara. Nos mamíferos, observaram-se oito taxa exóticos, todos considerados novos registos para a Matela; o anteriormente conhecido morcego, Nyctalus azoreum, único mamífero endémico dos Açores, foi classificado como triplamente raro. Conclui-se que a Matela mantém um património natural muito assinalável, quando comparado com a biodiversidade total da Ilha Terceira. No entanto, as espécies introduzidas e introduzidas invasoras têm uma grande expressão em termos de diversidade e abundância, tendo aumentado substancialmente em quase todos os grupos onde foi possível fazer comparações. O impacto real destas espécies nas comunidades nativas ainda está por esclarecer na sua total dimensão, mas confirma-se a necessidade de enfrentar este problema real para a conservação da natureza nos Açores.