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- O complexo Myosotella 'myosotis/denticulata': uma perspetiva morfológica, molecular e ecológicaPublication . Mendes, Ana Rita Marques; Martins, António M. de FriasMyosotella myosotis (Draparnaud, 1801), espécie tipo do género Myosotella Monterosato, 1906, é morfologicamente muito variável, tendo sido descritas mais de 40 espécies actualmente incluídas na sua sinonímia. Embora presentemente tido como género monotípico, duas formas há muito têm sido reconhecidas: uma mais comum, robusta e com abertura da concha moderadamente denticulada associada a M. myosotis e outra mais delicada, de abertura fortemente denticulada associada a Myosotella. denticulata (Montagu, 1803). As duas formas são comuns em sapais e entre calhaus rolados acima do supratidal, ainda que a forma denticulada ocorra preferencialmente em habitats perto da maré-alta frequentemente em costas expostas (Martins, 1999). Nos Açores duas espécies similares às formas acima referidas foram descritas por Morelet (1860) da ilha do Pico, mas Martins (1996) considerou-as sinónimos de Myosotella myosotis. Este trabalho, seguindo uma abordagem holística, pretende determinar se haverá fundamento taxonómico para as duas formas myosotis/denticulata e, no seguimento, avaliar o estatuto das espécies descritas por Morelet (1860) para o Arquipélago dos Açores. Para tal dividiu-se o trabalho em três secções, abordando-se respectivamente as características morfométricas, ecológicas e moleculares. O material utilizado proveio de 28 locais, divididos em 7 regiões: Mediterrâneo (Creta), Atlântico Nordeste (Portugal Continental), Macaronésia (Açores, Madeira), Atlântico Sul (África do Sul), Atlântico Noroeste (Bermudas) e Pacífico Norte (Los Angeles). No total foram estudados 247 indivíduos, 186 nas análises morfométricas, 61 no estudo da ecologia e 48 nas análises moleculares. Não se tendo obtido espécimes do local tipo para as duas formas, pelas características conquiológicas adoptou-se para a forma denticulata (originária do sul da Inglaterra) os exemplares de Creta, enquanto para a forma myosotis (originária da costa sul de França) foram escolhidos os exemplares de Portugal Continental pela similaridade da concha e pela proximidade com o Mediterrâneo. As análises morfométricas, ecológicas e moleculares mostraram separação significativa entre os indivíduos de Creta e das restantes regiões consideradas, em particular com Portugal Continental, justificando consideração sobre o seu estatuto específico respectivo. Ainda que para os Açores se tenha verificado uma separação não tão evidente, indícios sugerem que, para além da forma myosotis, uma outra entidade taxonómica pode existir, em particular no grupo central. Conclui-se, assim, que se justifica um estudo mais pormenorizado e aprofundado do género Myosotella nos Açores, incidindo mormente na anatomia e análise molecular. Os resultados daí advenientes permitirão interpretações biogeográficas mais sólidas, possivelmente obrigando a uma reconsideração da teoria comummente aceite da dispersão antropogénica de Myosotella myosotis por todo o mundo.