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- Vladimir Nabokov : um problema de habitação (ou de habituação)? : aculturação e resistência no percurso para o romance americanoPublication . Ventura, Carlos Manuel Cravo; Sousa, Maria Leonor Ribeiro da Fonseca Calisto Machado; Alves, Teresa Ferreira de AlmeidaOs primeiros, e intimidantes, contactos que tive com a obra do escritor russo-americano Vladimir Nabokov ocorreram algo tardiamente (nos meus trinta e poucos anos) e deveram-se à liberalidade de um amigo dilecto, que certo dia resolveu oferecer-me dois ou três livros de entre os que Nabokov escrevera originalmente já em inglês. Se bem me recordo, comecei por ler o seu último romance publicado em vida, Look at the Harlequins!, a que se seguiram Transparent Things, Lolita e Pale Fire. Comecei, pois, praticamente pelo fim, o que no caso de Nabokov talvez não seja assim tão estranho: afinal, não abre ele a biografia literária de Gogol com um capítulo a que deu o título «His Death and His Youth»? Aqueles livros alimentaram conversas amenas durante as tardes de férias-de-Verão, conversas que, passado pouco tempo, se transformaram num desafio: por que não conceber um trabalho de maior fôlego sobre a obra de Nabokov, um autor tão discutido “lá fora” e que parecia, à época, ainda não ter merecido a atenção correspondente “cá dentro”? Havia, claro, o problema do corpus, que, além de vasto e manifestamente complexo, tinha uma parte dele nascido em russo, embora se encontrasse traduzido, ou por Nabokov ou sob sua apertada vigilância, em inglês. Para apaziguamento dos meus escrúpulos devidos à incapacidade de o ler em russo, descobri mais tarde que Nabokov considerava as traduções em inglês como as versões definitivas da sua obra russa, provavelmente (ou com certeza) por força das alterações, de pormenor mas para ele significativas, que achou por bem introduzir (licença que não deve entender-se como traição de tradutor — ou, no caso, mais de “supervisor de tradutor” —, desde que da sua própria obra se trate). Sopesado tudo, desde cedo me pareceu prudente concentrar a atenção nos romances originalmente escritos em inglês — e o romance é, assim o julgo, o género em que Nabokov atinge o ápice das suas faculdades criativas —, sem todavia descurar a indispensável contextualização na totalidade da obra. Das muitas interrogações que a leitura de Nabokov pode suscitar, uma se me foi impondo como possiblidade de trabalho, diria até, como necessidade de procura de uma resposta: Como consegue um escritor, já na maturidade e com obra de mérito reconhecido, fazer a travessia para um novo idioma literário, com as inevitáveis exigências de adaptação a outra realidade sócio-cultural, e, ainda por cima, alcançando uma notoriedade muito superior à que conquistara no seu idioma nativo? A esta pergunta sucederam-se outras suas complementares: Que resistências íntimas não terá ele tido de contrariar? Quanto terá permanecido do hábito de errância espiritual (e física) na Europa, adquirido durante os vinte e um anos que precederam a chegada a terras americanas? Que obstáculos teve Nabokov de ultrapassar para se afirmar entre os seus pares do país de adopção? Como o terão marcado os cerca de vinte anos em que viveu a experiência americana? Quanto de tudo isto se reflecte na obra ficcional produzida na América (e continuada na Suíça)? E que factores concorrem para que Nabokov nos deixe a impressão de que não conseguia estar sossegado num sítio? A necessidade de responder a estas perguntas determinou a estrutura do presente trabalho. Havia que tentar perceber o percurso de vida de Nabokov para o correlacionar com o literário — eis a matéria da primeira parte, que intitulei «A Abordagem Biográfica». Havia que enquadrar teoricamente o fenómeno da aculturação e tentar compreender como Nabokov enfrentou a transição para a realidade sócio-cultural dos Estados Unidos da América — eis a matéria da segunda parte, que intitulei «Questões de Aculturação». Finalmente, havia que apresentar uma proposta de leitura dos romances que contribuiram para que Nabokov conquistasse um lugar na literatura norte-americana, uma leitura que necessariamente se articulasse com as preocupações desenvolvidas nas duas primeiras partes do trabalho — eis a matéria da terceira parte, que intitulei «Os Romances Americanos», na qual Lolita ocupa, julgo que com inteiro merecimento, quase a totalidade do espaço. Quanto ao título e ao subtítulo do volume, Vladimir Nabokov: Um Problema de Habitação (ou de Habituação)? — Aculturação e Resistência no Percurso para o Romance Americano, a sua explicação encontra-se no último capítulo (que é também o epílogo desta história). [do Prólogo]
- Cultura e identidades açorianas : as palestras radiofónicas de Francisco Carreiro da Costa (1945-1974)Publication . Gonçalves, Francisco António Grandão; Cordeiro, Carlos Alberto da CostaO movimento regionalista açoriano, nos anos 20 e 30 do século XX, promoveu debates sobre as realidades políticas, económicas, sociais e, de um modo muito especial, culturais insulares. Envolveu intelectuais, políticos, jornalistas, empresários, elementos do clero, entre outros, que almejavam a “construção” de uma verdadeira “consciência açoriana”, entendida, em linhas gerais, como a substituição dos interesses particularistas de cada uma das ilhas pelos valores da unidade e solidariedade açoriana. O recurso à História e o apelo ao regresso da tradição; as preocupações pela preservação do património etnográfico e artístico; a exaltação dos valores patrióticos integra esse discurso regionalista que, na sua vertente mais conservadora, invoca os valores da ordem e da disciplina sociais. É nestas questões que se declara o interesse e dedicação de Francisco Carreiro da Costa, aos Açores. Desde cedo manifestou atenção pelas questões culturais do arquipélago, aquando da organização e realização do I Congresso Açoriano, de que foi seu secretário, o que lhe permitiu o contacto com a generalidade das questões açorianas de então. Além das actividades de carácter oficial e associativo, foi à etnologia dos Açores, que se dedicou mais empenhadamente. Os vários cargos que ocupou permitiram que realizasse uma obra exaustiva de descoberta, recolha e coordenação dos valores da tradição regional, que executou com método, persistência e a divulgou amplamente. Personalidade marcante e influente na sociedade açoriana do seu tempo, foi considerado importante obreiro das Letras e possuidor de reconhecidas capacidades intelectuais. A sua vida foi um raro exemplo de trabalho e actividade, tendo compreendido muito de perto a alma do povo, que tão empenhadamente observou em todas as suas manifestações, conforme testemunham aqueles com quem privou. Foi interlocutor privilegiado de escritores, jornalistas, artistas, cientistas que visitaram São Miguel e viram nele colaborador incansável. Participou em diversas palestras e conferências no território nacional como no estrangeiro, contribuindo com os seus estudos para o enriquecimento do debate sobre a definição da identidade açoriana. Salienta-se, igualmente, o valioso trabalho de compilação e divulgação do património histórico e etnográfico dos Açores, empreendido pelo Dr. Francisco Carreiro da Costa, bem como a sua colaboração na constituição de vários organismos culturais do arquipélago. A vasta e tão relevante obra congregada no Fundo Dr. Francisco Carreiro da Costa que se encontra à guarda dos Serviços de Documentação da Universidade dos Açores, é constituída pelas palestras, proferidas no Emissor Regional, correspondência diversa enviada pelo próprio a particulares e a entidades públicas, trabalhos de investigação, ficheiros sobre os temas de estudo, além de textos variados, que são importantes para quem se queira debruçar sobre a problemática da identidade cultural açoriana. […]